Reflexões filosóficas?tô ficando pretensiosa....rs
Era uma manhã em que eu não sairia de casa por nada, talvez fosse a TPM, talvez não fosse coisa alguma.Eu apenas quis ficar em casa...Tenho que aproveitar enquanto ainda me cabem esses desatinos.Assim, fiquei no MSN com um amigo, tentando abstrair as nuvenzinhas negras, cheias de relâmpagos, que vez por outra pairam sobre mim.Desenhei um barquinho horroroso para ele.Feio e frágil, não sobreviveria a um tênue beijo do mar...Meu amigo não assustou-se com a feiúra do barco.Ou pelo menos não demonstrou, apesar de ter feito um muito legal depois (é, pensando bem, acho q essa foi sua maneira de dizer o quanto estava feio: fazendo um bonito...)Eu disse a ele que costumava a rabiscar barcos em tudo que era papel.Barcos e meu nome, principalmente se estivesse distraída...
"-E qual a explicação da Annie a respeito?" - alguns minutos atrás, nos imaginávamos os felizes ganhadores da megasena acumulada.Num momento inter-devaneios, eu disse que estávamos entrando em surto psicótico, segundo a minha irmã me dissera uma vez...)
"-Solidão..." - parece dramático mas escutei isso dela e de muitas outras pessoas, sobre essa minha mania de rabiscar barcos, mesmo sem perceber.
daí, ele me disse:
"- De que adianta ser um navio em alto mar que sabe para onde vai mas não sabe onde está."
Segundo esse amigo, isso é um ditado.Eu não conhecia, mas gostei muito.Costumo pensar se as pessoas se dão conta disso.Que a vida é mais do que acordar, beijar a esposa(o) (quando beija...), tomar café, deixar as crianças na escola, ir ao trabalho,voltar para casa, perguntar como foi o dia da família(quando pergunta...), ir pro quarto, fazer amor(mais um se...), dormir e...Com algumas variações, é a vida de milhões de pessoas.Autômatos.E sempre tive medo que um dia fosse a minha...
Raramente alguém se pergunta onde está.Parece nem ser tão interessante assim essa informação.Sabemos onde queremos chegar.Família perfeita, chefia de uma empresa ou repartição,ficar famoso, ter mais de 15 salários de rendimento, largar tudo e ir morar no campo/praia,casar, ser seu próprio patrão...
Por vezes, fazemos até o mapa da estrada mas quando é pra assinalarmos o ponto em que estamos, nova complicação.Já passamos do castelo daquele terrível rei e ainda estamos esperando que ele surja depois da próxima colina e daí não ligamos a mínima para a paisagem (campos floridos, o sol beijando nosso rosto, as oportunidades...).Ou achamos que já se passaram todos os pântanos e cavalgamos alegres e intrépidos rumo ao atoleiro mais próximo...E há aqueles que andam apenas pela impaciência de ficarem parados.Mesmo quando se tem certeza de estar na trilha escolhida, a estrada real, cercada por trigais,há poucas milhas da vila mais próxima - onde pode-se descansar das inquietações cotidianas- sempre haverá um "desinformante", um ser não-requisitado, para contestar a precisão do mapa, a escolha do caminho, os benefícios do lugar onde se quer chegar e até o que está plantado à beira da estrada: melancias e não trigo! ("É que parece muito, sabe como é...").
E tudo pode ser pior se o barco não souber que é barco...
"Deus ri de nós",diz Jostein Gaarder, através do pai do pequeno Hans-Thomas em "O dia do Curinga":
“-Você sabe o que sua avó me disse um dia? Ela disse ter lido na Bíblia que Deus está lá no céu e ri das pessoas que não acreditam nele.
-E por quê? – perguntei, Perguntar era sempre mais fácil que responder.
-Muito bem... -começou meu pai. -Se há um Deus, que nos criou, então de uma certa forma somos ‘artificiais ‘ aos seus olhos.Falamos besteiras, discutimos e brigamos entre nós.Depois nos separamos e morremos, compreende?Somos superinteligentes: sabemos construir bombas atômicas e foguetes para ir à Lua.Mas nenhum de nós se pergunta de onde veio.Simplesmente se contenta estar por aqui, dividindo com os outros esse espaço.
-É nessa hora que Deus ri de nós?
-Exatamente. Se nós fôssemos capazes de criar um ser artificial, Hans-Thomas, nós também iríamos rachar o bico de rir se esse ser artificial saísse por aí falando um monte de bobagens sobre os índices da bolsa de valores ou sobre corridas de cavalos, por exemplo, sem se perguntar a coisa mais simples e mais importante de todas: De onde é que eu vim?”
De onde é que eu vim?Onde eu estou?O que há por trás do que demosntro ser? É bem cômodo não pensar sobre isso e implesmente esquecer todas essas coisas. Mas não é muito inteligente fazê-lo.Não que as respostas nos caiam aos pés.Nossos problemas, nossos anseios cotidianos não serão prontamente resolvidos se nos perguntarmos sobre nossa razão de ser..Talvez nunca haja um consenso interno – ou até mesmo externo, se conversamos sobre nossas dúvidas e certezas.
“Decifra-me ou devoro-te!”- a esfinge que assolava Tebas está em cada um e nós somos o nosso enigma e precisamos resolvê-lo.
E aqueles que não se perguntam, é que já foram devorados.
Tá, eu sei que muita (mais muita mesmo) gente mais gabaritada que eu já escreveu sobre o tema, não sou tão pretenciosa para achar ter dito algo que nunca tenha sido dito, novas idéias, novas teorias,algo brilhante...Mas passei dias pensando em meu barquinho, em meio ao mar,frágil e feio, que até tem bússola e cartas de navegação mas, de vez em quando, não acerto lê-los.
Um comentário:
Será que eu posso viajar no seu barquinho? Agora eu me pergunto quem sou e me encontro perdida em meio a tantos tormentos e devaneios... mas acredito que quando eu conseguir me decifrar... Bjos, Dê!
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