Hoje foi um dia estranho. Mais um, talvez. Apenas mais um desses dias nos quais pensamos por longo tempo.
Tenho dormido mal, só que isso sempre acontece e essa manhã fiquei em casa e montei um seminário medíocre para a reunião do laboratório, simplesmente por que não conseguia o mínimo de concentração necessária. Sem falar na dor de barriga, não sendo essa a causa do déficit de atenção.
Apresentei o seminário. Bem ruim. Fui então conversar com os donos dos 13 beagles que ainda restam em campo. Dizer que todos estavam com leishmaniose e o teste não havia dado certo e bláblábláblá. PCR é PCR, mas pareceu-me que mentia. Repetisse isso ao detector de mentiras, valendo minha vida e eu estaria morta. Tudo soou falso e fiquei meio mal.
Quando terminou a sessão tortura, fui ver uma amiga, a mãe de alguém que me foi - e é-extremamente importante, um amigo a quem amo.
Eu precisava daquela conversa, faz tempo já. Ali, eu soube de muita mentira. Ela chorou, eu quase chorei (o policiamento interno vem funcionando...) e, o melhor, eu pude entender muita coisa. Não só do que aconteceu e atitudes tomadas, ficou um pouco daquela coisa que só mãe sente, que eu só vislumbro. Lembro da professora Rita falar algo nesse sentido, ela que todos dizem ser uma mãe extremosa até demais. Lembro do que minha mãe está passando agora, lembro do que escutei essa tarde e, mais de uma vez essa semana, quis saber se todos mesmo se perguntam onde erraram e o tempo é tão pouco, nossa existência tão tolamente efêmera e quando se vê não há nada além de lamentar-se e colocar uma cadeira do lado de fora da casa, esperando a tarde passar. Sempre penso: cada um tem um caminho e ele nunca é fácil, para aqueles que o segue ou para quem observa alguém trilhar.
Passei em outro lugar para conversar e esquecer.
Quando cheguei em casa, mas inquietação: minha irmã.
Primeiro, alimentar idéias loucas de que meu irmão vá para Brasília e o que significaria minha cunhada passar os 7 meses restantes de gravidez longe dele e ainda o parto e talvez os primeiros meses do bebê. Eles são tão jovens, primeiro filho. Ante a minha indignação, o comentário: "fudeu por que quis..."
Segundo, ainda ela, área médica, serviço público de um local tão carente de tudo, a dizer que não vai atender ninguém além da sua cota. E tem cota de urgência também, que cansou de ser boazinha e agora ser ia ser assim. Escuto vários reclamações, ela tanto fez e eles não demonstraram gratidão.
Eu nunca vi alguém morrer. Somente duas vezes, acho, estive diante de situações que poderiam resultar nisso e em uma delas, era em um hospital. Sou idiotamente idealista. Sempre soube disso, mas não entendo como alguém pode ver um igual seu precisando de cuidados de saúde, dependendo do seu aval, da sua análise e não sentir-se impelido a fazer tudo o que está a seu alcançe. Sinto-me penalizada com a necessidade e enojada de profissionais da saúde que esquecem do que prometeram, esquecem do que são. Devo é ser muito tola, sempre lembro do que jurei. Apelo. Ela é cristã. Mas não adianta.
Passa poucos minutos e namorado dela liga. Febre alta, dor no corpo. Contrariando as expectativas do bombardeio de informações sobre dengue do governo e da Globo, ele toma 3 lindos comprimidos ácido acetilsalicílico, depois de ter ido ao serviço público e - surpresa- não ter sido atendido por que o médico não foi. Ela chora desesperadamente,grita ao telefone com ele, o chama de doido, de burro. Preocupações com dengue hemorrágica. E ela nem está lá. Eu tento tomar banho, escuto fungados, ela aparece à porta- vermelha do choro, descabelada. Conta tudo o que já ouvi. Não resisto. "Viu? e ainda quer deixar de atender quem está além da sua cota". A dela? "Nada a ver isso. É uma pessoa próxima de mim!". Não me comoveu, pois sempre é alguém próximo a alguém.
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