Nunca vi mês mais longo, passavam tantos dias e quando dei por mim, ainda faltavam duas semanas para terminá-lo.
Hoje, faz um mês que perdi uma amiga, uma mãe-menina com idade de avó. Comíamos caramelos e picolés, fazíamos coisas escondidas, jogávamos pedrinhas, compartilhávamos histórias. Era alguém como poucos. Moleca, a imagem que ficou não foi do corpo estranho que ajudei a vestir e sim do dia - pouco antes de adoecer - que, tendo perdido um jogo no qual ainda tentara "roubar", foi obrigada a dançar bumba-meu-boi para pagar prenda, um vídeo realmente engraçado que gosto de ver para não ficar triste. Ativa e voluntariosa, era alguém que não parecia ter vivido 74 anos e que devia ter ficado comigo um pouco mais.
Entendo pouco de morte, mas ela mudou de significado. Tornou-se a palavra pesada que meu coração de menina desdenhava quando os mais velhos estremeciam à simples menção. Entendo pouco de morte, já vi tantos bebês e ela foi meu primeiro morto. Ela tinha medo, como mesmo dizia "apenas da hora da passagem". E, foi-se. Eu fiquei aqui, com medo de tudo, de perder quem eu amo, desse ano ruim.
*Dente de Leão: nome vulgar a plantas do gênero Taraxacum. Em alguns lugares do Nordeste, recebe o nome de esperança: abre as janelas e deixa a esperança entrar na tua casa trazida pelo vento da tarde. Foto de não sei aonde, via Google Imagens.
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