Lições vazias (para a chuva que não caiu lavar– promessas, sempre promessas, tanta nuvem, tanto cinza):
Os desejos falhos, os sonhos errados. Aquela caminhada para pensar em que acabei distraindo-me com a rua. Palavras e areia lançadas ao vento – minhas e tuas. As mentiras para ninar meus pais. O choque, o fardo, a dor. Meu frio. As escolhas sem culpa. O que houve de ruim – e tem mais memória que aquele algo bom. A verdade que doía demais e foi dita. Os medos que passaram e abandonaram-me seca. A dor alheia. O irreal, o transitório. Idéias alheias a meu respeito. Minhas idéias sobre o que não me diz respeito. Essas impossibilidades. Essa ausência de credo.
Das chuvas e das paixões
I
Das chuvas e das paixões
te guarda
até conheceres o fim
Umas vêm para fecundar
outras, vêm para destruir
te guarda
até conheceres o fim
Umas vêm para fecundar
outras, vêm para destruir
II
Cai uma tempestadee diz-se chuva
Mas um sereno
é chuva também
E se não pode julgar mais chuva
esta ou aquela em que há mais violência
ou ternura
Tampouco mais ou menos tempo
até o seu fim
Mesmo porque,
quando é o fim duma chuva
se existe muito mais fim em quem a observa
do que nela própria?
Não me espantaria o contrário
mas, creio que elas não pensam
também não sentem
Apenas carregam em si
esse momento
Os homens, porém,
se nove destes se abrigam
a espera do fim duma chuva
cada um se vai num instante
porque cada um percebe esse fim
em si - e em seu próprio tempo
O que leva a crer
que uma chuva passa
no instante em que ela passa, simplesmente
mas essa chuva somente passa, para quem a sente,
quando se entende que ela já passou.
III
E basta que a chuva venha três vezes do norteQue há quem se espante quando ela vem pelo sul
Como se mais forte fosse de onde a chuva vem
Que a fertilidade que ela traz aos campos
Eduardo Gaspar
(com gosto de Alberto Caeiro)
Um comentário:
tinha esquecido o quanto é bom ler este [s] moço [s]...
saudades de ti, dona verbena.
=*
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