quarta-feira, junho 28, 2006
sexta-feira, junho 23, 2006
Prece ao Vento
Vento que encrespa as ondas do mar
Vento que assanha os cabelos da morena
Me trás notícia de lá
Vento que assovia no telhado
Chamando para a lua espiar
Vento que na beira lá da praia
Escutava o meu amor a cantar
Hoje estou sozinho e tu também
Triste, mas lembrando do meu bem
Vento diga, por favor,
Aonde se escondeu o meu amor
Vento diga, por favor,
Aonde se escondeu o meu amor "
Isso começou com um gostoso gento de chuva a emaranhar meus cabelos novamento cacheados enquanto eu chegava em casa.Lembrei dessa canção que meu pai adorava cantar para ninar-me,fui passando de uma recordação para outro e graças à radiouol em pouco minutos lá estava eu ouvindo Nelson Gonçalves,Orlando Silva, Lupicíno Rodrigues e Noel Rosa!E cantando alto... E fui passando..Já estava ouvindo Caymmi,Elis...Faz tantos anos...Vocês talvez nem tenham noção como é gostovo.Pode ser piegas,pode ser o que for,mas eu adorei.Nossa! ouvi uma musica do Chico Buarque que eu escutei quando ainda escalava cadeiras para poder sentar!Ai, eu adoro esses vinis do papai...
Meu pai pensa que enlouqueci.De vez em quando ele aparecia na porta do quarto e balançava a cabeça com ar de quem diz "O que deu nela hoje.."Talvez pense que estou apaixonada à moda antiga ( o que é bem verdade...)Mas é dele que lembro,nas noites calmas do sítio, ouvindo-o cantar,mostrar-me estrelas, os pontos cardeais e a direção do vento...
Hehe ...ele parou de crer em minha loucura ou aceitou a trégua que Cradle of Filth deu a ele e ficou contente.."Caramba,hoje você foi buscar longe..."-e veio sentar em minha cama...E cantou comigo!!!!!!
Eu cantei La barca... eu dancei...Eu empolguei-me diversas vezes (de quem eu gosto,nem às paredes confesso...) E quando tocou Fascinação??caramba!!
Quase escapou o pranto contido,o que seria bom...Vou parar com esses devaneios...Tô sorrindo de novo e isso é o que importa.
Me internem enquanto é tempo!!!!
quinta-feira, junho 22, 2006
Cocktail Party (Mário Quintana)
Não dessa tristeza ignominiosa dos que, em vez de se matarem, fazem poemas:
Estou triste por que vocês são burros e feios
E não morrem nunca...
Minha alma assenta-se no cordão da calçada
E chora,
Olhando as poças barrentas que a chuva deixou.
Eu sigo adiante. Misturo-me a vocês. Acho vocês uns amores.
Na minha cara há um vasto sorriso pintado a vermelhão.
E trocamos brindes,
Acreditamos em tudo o que vem nos jornais.
Somos democratas e escravocratas.
Nossas almas? Sei lá!
Mas como são belos os filmes coloridos!
(Ainda mais os de assuntos bíblicos...)
Desce o crepúsculo
E, quando a primeira estrelinha ia refletir-se em todas as poças d'água,
Acenderam-se de súbito os postes de iluminação!
terça-feira, junho 20, 2006
Uma amiga me viciou em Los Hemanos...Antes eu ouvia (não muito) e sem ligar 'pro' que estava sendo dito.Sempre lembra meu irmão, tocando violão na calçada no primeiro ano que mudamos para essa casa e um monte de particularidades sobre ele.Tem umas músicas que só ouvir ficar com aquele bolo difícil de descer na garganta,lembra essa época e muitas outras noites,nós dois jogando conversa fora,os milhares de mp3 que ele insistia em fica catando net a fora...Olha só e vê se parece comigo:Iris (Go Go Dolls que coisa inconfessável, mas outro dia quase deixo Aline doida sem saber se dirigia ou me consolava,chorando pq tava tocando essa musica),Primavera,Palpite (essa ele sempre queria que eu cantasse).
Ai ai, eu saía correndo ao ouvir GreenHair, acho que nem tem mais que 4 notas e ele pegou fácil,fácil.Para me chatear,claro,pq sabia que eu não gostava e ao fim de uma semana eu já odiava!!!Mas não resistia (e nem resisto) quando ele me puxa pelo braço e diz:" Fica aqui! vai não..."Sabe aquelas pessoas com quem você briga,que é ciumento e possessivo, e você odeia os defeitos e nem suporta pensar em algumas atitude dele mas ama tanto que chega a doer?Ele pra mim é desse jeito. Sinto falta até das pequenas besteiras.Até de esperá-lo chegar em casa,fosse meia-noite ou às 4 da manhã.Ou dele me esperando,com cara de brabo...Agora,ninguém me espera, a não ser essa maldita aparição (nesses dias mais forte que nunca,mas acho que era a presença da Annie...).E quando mergulho no escuro em direção ao meu quarto penso que qualquer dia alguém estará me esperando, a saltar do nada e me ameaçar.E o pior de tudo não será ser violentada,desfigurada,espancada e morta.Ficar viva(e violentada,desfigurada,espancada), incomunicável por dias,sofrendo até morrer e querendo viver é bem pior...Aline com certeza acabaria batendo aqui depois de ligar por uns dois dias,mandar e-mails,scraps...Que coisa móbida, mas ja imaginei todos os detalhes toscos e nojentos há algumas noite, quase escrevo minha própria morte.rs Insônia tola que aos tolos faz imaginar tolice...sentindo dor, logo eu que odeio sentir dor e para afastá-la até deixo de lado minha aversão a medicamentos.Eu simplesmente adoro analgésicos e anestésicos.Los Hermanos é pra cortar os pulsos...A mim,sempre soa tão deprimente!"Eu encontrei-a quando não quis mais procurar o meu amor"
Péssimo, mas acho que soube exatamente o que eu sentia por ele exatamente quando não queria saber, ele tá tão longe mesmo...E minha amiga ainda achará,por causa do segundo vídeo deles, que sou umas dessas pessoas que tá ouvindo eles agora "só pq é banda da moda",mas palavras dela.
sábado, junho 17, 2006
Sobre camundongos e febre
quinta-feira, junho 15, 2006
Solfieri
Yet one kiss on your pale clay And those lips once so warm beart! my bears! my bears!
BYRON—Cain
Sabeis-lo. Roma e a cidade do fanatismo e da perdição: na alcova do sacerdote dorme a gosto a amásia,no leito da vendida se pendura o Crucifixo lívido. É um requintar de gozo blasfemo que mescla o sacrilégio a convulsão do amor, o beijo lascivo a embriaguez da crença!Era
Um ano depois voltei a Roma. Nos beijos das mulheres nada me saciava: no sono da saciedade me vinha aquela visão. Uma noite, e após uma orgia, eu deixara dormida no leito dela a condessa Bárbara. Dei um último olhar áquela forma nua e adormecida com a febre nas faces e a lascívia nos lábios úmidos, gemendo ainda nos sonhos como na agonia voluptuosa do amor. Saí.. —Não sei se a noite era límpida ou negra—sei apenas que a cabeça me escaldava de embriaguez. As taças tinham ficado vazias na mesa: nos lábios daquela criatura eu bebera ate a última gota o vinho do deleite.
Quando dei acordo de mim estava num lugar escuro: as estrelas passavam seus raios brancos entre as vidraças de um templo. As luzes de quatro círios batiam num caixão entreaberto. Abri-o: era o de uma moça. Aquele branco da mortalha, as grinaldas da morte na fronte dela, naquela tez lívida e embaçada, o vidrento dos olhos mal apertados... Era uma defunta! ... e aqueles traços todos me lembraram uma idéia perdida. . —Era o anjo do cemitério? Cerrei as portas da igreja, que, ignoro por que, eu achara abertas. Tomei o cadáver nos meus braços para fora do caixão. Pesava como chumbo. Sabeis a historia de Maria Stuart degolada e o algoz, "do cadáver sem cabeça e o homem sem coração" como a conta Brantôme?Foi uma idéia singular a que eu tive.
Tomei-a no colo. Preguei-lhe mil beijos nos lábios. Ela era bela assim: rasguei-lhe o sudário, despi-lhe o véu e a capela como o noivo as despe a noiva. Era uma forma puríssima.. Meus sonhos nunca me tinham evocado uma estátua tão perfeita. Era mesmo uma estátua: tão branca era ela. A luz dos tocheiros dava-lhe aquela palidez de âmbar que lustra os mármores antigos. O gozo foi fervoroso—cevei em perdição aquela vigília. A madrugada passava já frouxa nas janelas. Àquele calor de meu peito, a febre de meus lábios, a convulsão de meu amor, a donzela pálida parecia reanimar-se. Súbito abriu os olhos empanados. —Luz sombria alumiou-os como a de uma estrela entre névoa—, apertou-me em seus braços, um suspiro ondeou-lhe nos beiços azulados. Não era já a um desmaio. No aperto daquele abraço havia contudo alguma coisa de horrível. O leito de lájea onde eu passara uma hora de embriaguez me resfriava. Pude a custo soltar-me daquele aperto do peito dela. Nesse instante ela acordou…
Nunca ouvistes falar da catalepsia? E um pesadelo horrível aquele que gira ao acordado que emparedam num sepulcro; sonho gelado em que sentem-se os membros tolhidos, e as faces banhadas de lágrimas alheias sem poder revelar a vida! A moça revivia a pouco e pouco. Ao acordar desmaiara. Embucei-me na capa e tomei-a nos braços coberta com seu sudário como uma criança. Ao aproximar-me da porta topei num corpo; abaixei-me - olhei: era algum coveiro do cemitério da igreja que aí dormira de ébrio, esquecido de fechar a porta. Saí. —Ao passar a praça encontrei uma patrulha-Que levas aí?
A noite era muito alta—talvez me cressem um ladrão.
—É minha mulher que vai desmaiada
—Uma mulher! Mas essa roupa branca e longa? Serás acaso roubador de cadáveres?
Um guarda aproximou-se. Tocou-lhe a fronte—era fria. —é uma defunta!
Cheguei meus lábios aos dela. Senti um bafejo morno. —Era a vida ainda.
—Vede, disse eu.
O guarda chegou-lhe os lábios: os beiços ásperos roçaram pelos da moça. Se eu sentisse o estalar de um beijo. . o punhal já estava nu em minhas mãos frias
—Boa noite, moço: podes seguir, disse ele.
Caminhei.—Estava cansado. Custava a carregar o meu fardo: e eu sentia que a moça ia despertar. Temeroso de que ouvissem-na gritar e acudissem, corri com mais
esforço. .Quando eu passei a porta ela acordou. O primeiro som que lhe saiu da boca foi um grito de medo.Mal eu fechara a porta, bateram nela. Era um bando de libertinos meus companheiros que voltavam da orgia. Reclamaram que abrisse.
Fechei a moça no meu quarto—e abri. Meia hora depois eu os deixava na sala bebendo ainda. A turvação da embriaguez fez que não notassem minha. ausência. Quando entrei no quarto da moça vi-a erguida. Ria de um rir convulso como a insânia,, e frio como a folha de uma espada. Trespassava de dor o ouvi-la. Dois dias e duas noites levou ela de febre assim Não houve como sanar-lhe aquele delírio, nem o rir do frenesi. Morreu depois de duas noites e dois dias de delírio.A noite sai—fui ter com um estatuário que trabalhava perfeitamente em cera—e paguei-lhe uma estátua dessa virgem. Quando o escultor saiu, levantei os tijolos de mármore do meu quarto, e com as mãos cavei aí um túmulo. —Tomei-a então pela última vez nos braços, apertei-a a meu peito muda e fria, beijei-a e cobri-a adormecida do sono eterno com o lençol de seu leito. Fechei-a no seu túmulo e estendi meu leito sobre ele.Um ano—noite a noite—dormi sobre as lajes que a cobriam Um dia o estatuário me trouxe a sua obra. —Paguei-lha e paguei o segredo. Não te lembras Bertram, de uma forma branca de mulher que entreviste pelo véu do meu cortinado? Não te lembras que eu te respondi que era uma virgem que dormia?
—E quem era essa mulher, Solfieri?
—Quem era? seu nome?
—Quem se importa com uma palavra quando sente que o vinho lhe queima assaz os lábios? quem pergunta o nome da prostituta com quem dormia e que sentiu morrer a seus beijos, quando nem há dele mister por escrever-lho na lousa?
Solfieri encheu uma taça—Bebeu-a.—Ia erguersse da mesa quando um dos convivas tomou-o pelo braço.
—Solfieri, não e um conto isso tudo?
—Pelo inferno que não! por meu pai que era conde e bandido, por minha mãe que era a bela Messalina das ruas—pela perdição que não! Desde que eu próprio calquei aquela mulher com meus pés na sua cova de terra - eu vô-lo juro—guardei-lhe como amuleto a capela de defunta. —Ei-la!
Abriu a camisa, e viram-lhe ao pescoço uma grinalda de flores mirradas.
—Vede-la murcha e seca como o crânio dela!
(Álvares de Azevedo, Noite na Taverna. De longe,meu conto predileto.)
terça-feira, junho 13, 2006
Schopenhauer e o sofrimento:pq filósofos ficam parados pensando besteiras que eu concordo?
(...) cada um necessita sempre de um certo quantum de preocupação,ou dor,ou necessidade,como o navio de lastro para navegar de modo ereto e firme.
Trabalho,aflição,esforço e necessidade constituem durante toda a vida a sorte da maioria das pessoas.Porém se todos os desejos,apenas originados,ja estivessem resolvidos, o que preencheria então a vida humana,com que se gastaria o tempo?Que se transfira o homem a um país utópico,em que tudo crescesse sem ser plantado,as pombas revoassem já assadas,e cada um encontrasse logo e sem dificuldade sua bem-amada.Ali em parte os homens morrerão de tédio(...) para uma tal espécie,como a humana,nenhum outro palco se presta,nenhuma outra outra existência.
Em conseqüência da relembrada negatividade do bem-estar e do prazer,em contraste com a positividade da dor, a felicidade de um determinado curso de vida não se estima segundo suas alegrias e prazeres,porém pela ausência de sofrimentos,como sendo positivo.Assim,a sorte dos animais parece mais suportável que a do homem."
(Contribuições à doutrina do Sofrimento do Mundo -é ,parece nome de livro-texto pra curso de torturador)
domingo, junho 11, 2006
Liberdade
"Perceber aquilo que se tem de bom no viver é um dom
Daqui não,
eu vivo a vida na ilusão
Entre o chão e os ares vou sonhando em outros ares, vou
Fingindo ser o que eu já sou
Fingindo ser o que eu já sou
Mesmo sem me libertar eu vou
É, Deus,
parece que vai ser nós dois até o final
Eu vou ver o jogo se realizar de um lugar seguro
Seguro
De que vale ser aqui
De que vale ser aqui
Onde a vida é de sonhar
Liberdade"
Marcelo Camelo
Suhelen nem imagina o quão fundo essa música tocou.Eu, de olhos marejados nessa tarde de chuva em que meu coração também é plúmbeo,não só o céu...
quinta-feira, junho 08, 2006
Os Vermes (Dom Casmurro-Machado de Assis)
- Meu senhor, respondeu-me um longo verme gordo, nós não sabemos absolutamente nada dos textos que roemos, nem escolhermos o que roemos, nem amamos ou detestamos o que roemos; nós roemos.
Não lhe arranquei mais nada. Os outros todos, como se houvessem passado palavra, repetiam a mesma cantilena. Talvez esse discreto silêncio sobre os textos roídos fosse ainda um modo de roer o roído.