te guarda
até conheceres o fim
Umas vêm para fecundar
outras, vêm para destruir
e diz-se chuva
Mas um sereno
é chuva também
E se não pode julgar mais chuva
esta ou aquela em que há mais violência
ou ternura
Tampouco mais ou menos tempo
até o seu fim
Mesmo porque,
quando é o fim duma chuva
se existe muito mais fim em quem a observa
do que nela própria?
Não me espantaria o contrário
mas, creio que elas não pensam
também não sentem
Apenas carregam em si
esse momento
Os homens, porém,
se nove destes se abrigam
a espera do fim duma chuva
cada um se vai num instante
porque cada um percebe esse fim
em si - e em seu próprio tempo
O que leva a crer
que uma chuva passa
no instante em que ela passa, simplesmente
mas essa chuva somente passa, para quem a sente,
quando se entende que ela já passou.
Que há quem se espante quando ela vem pelo sul
Como se mais forte fosse de onde a chuva vem
Que a fertilidade que ela traz aos campos
Eduardo Gaspar
(com gosto de Alberto Caeiro)